26/03/2020

EMPRESÁRIOS PEDEM ‘PLANO MARSHALL’ PARA SALVAR PAÍS DO ‘CAOS SOCIAL’ PROVOCADO PELO CORONAVÍRUS

 

RIO — Preocupados com o impacto da pandemia do novo coronavírus sobre a economia brasileira, empresários pediram que o governo elabore um “Plano Marshall” — estratégia montada pelos EUA para a reconstrução de países europeus devastados pela Segunda Guerra Mundial — para salvar a economia brasileira do “caos social”.

O temor é que a crise provoque fechamento de negócios e o desemprego dispare. Para Guilherme Benchimol, fundador da XP Investimentos, não é improvável que o país tenha 40 milhões de desempregados até o fim do segundo trimestre.

— Precisamos de um plano Marshall, uma bomba atômica, para que o Brasil não entre em caos social — afirmou Benchimol, em transmissão ao vivo pela internet neste domingo, segundo o Valor Econômico. — Eu vi hoje uma entrevista do presidente regional do Fed de Saint Louis, James Bullard, dizendo que a taxa de desemprego irá subir de 3% para mais de 30% nos EUA. (…) No Brasil, onde há mais de 10 milhões de desempregados, acredito que o impacto será muito maior.

A transmissão foi promovida pela XP Investimentos, com a participação do presidente da CSN, Benjamin Steinbruch; do presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior; do presidente da Stone, André Street; do fundador da MRV, Rubens Menin; e do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães.

Os empresários destacaram que existem iniciativas individuais, das empresas privadas, do governo federal e de governos estaduais, mas é preciso ação coordenada.

— Acho importante agora que a gente reúna a classe empresarial para estabelecer como manter a perspectiva econômica — afirmou Ferreira Júnior, da Eletrobrás. — Vejo boa vontade e disposição para ter uma convergência do que fazer e rápido, antes que empregos sejam perdidos.

Apesar de adeptos do livre mercado, o grupo reconhece que a situação requer ações assistencialistas do governo.

— Saúde é prioridade, mas estou assustado porque o problema econômico pode ser tão grande quanto — afirmou Menin, da MRV. — As empresas precisam se organizar minimamente para manter a cadeia produtiva acesa. Vai ser necessário também um trabalho assistencial grande ou o salão de beleza e o pequeno comerciante serão dizimados.

Steinbruch, da CSN, sugeriu que o governo trabalhe com um cenário de ação de 90 dias, alongando prazos de pagamentos de impostos e vencimentos financeiros, para que o setor privado possa fazer o mesmo:

— Precisamos alongar a curva da doença e do impacto econômico. Certamente até junho estaremos convivendo com essa onda e precisamos dar perspectivas aos negócios, dar suporte a clientes e fornecedores — afirmou. — Empresas grandes e governo precisam ajudar a manter a economia ativa.

Com mais de meio milhão de clientes na ponta dos negócios, no contato direto com os consumidores, a Stone está assustada com a realidade que os comerciantes estão enfrentando. Para apoiar pequenos comerciantes, a empresa de pagamentos lançou linha de microcrédito de R$ 100 milhões e doação, em renúncia fiscal, de R$ 30 milhões.

André Street acredita que o governo terá que subsidiar empréstimos e até mesmo criar algum tipo de bolsa para auxiliar os comerciantes.

— Já começamos a ver comportamentos de desespero porque o capital de giro dura em média 27 dias. Sou defensor de livre mercado, mas em questão de calamidade, será preciso fazer um congelamento vivo desses pequenos negócios para que possam sobreviver — afirmou o presidente da Stone. — Nosso setor estará aberto a novas iniciativas do governo, que precisará de cheque grande e plano estruturado. Oferecemos à Caixa e ao BNDES nossa infraestrutura.

O presidente da Caixa afirmou já ter solicitado à sua equipe uma forma de viabilizar a extensão dos prazos, e sinalizou que irá analisar a proposta feita por Street, para que o governo use as redes de máquinas de pagamentos para levar crédito ou capital subsidiado para pequenos comerciantes.

Na defesa das ações do governo, Guimarães destacou que o banco já reduziu o custo em linhas de crédito e prometeu novos anúncios nesta semana.

Autor: André Vieira e Monica Scaramuzzo FONTE: ESTADÃO

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