24/06/2020

Economistas veem ainda ajustes residuais na taxa básica de juros

Ou seja, em proporção menor nas reuniões a partir de agosto

Na reunião que trouxe a Selic para 2,25% ao ano, no menor patamar da história, o Copom deixou a mensagem de que está prestes a encerrar o ciclo de corte, mas não deu sua tarefa por encerrada, segundo participantes do mercado. A expectativa, agora, é que os ajustes sejam residuais, ou seja, em proporção menor nas reuniões a partir de agosto.

A redução da projeção para a inflação em 2021 pelo Copom deixou a porta aberta para um novo corte na taxa básica na próxima reunião, de 0,50 ponto percentual, segundo Daniel Weeks, economista-chefe da Garde Asset Management.

“Existe um discurso conservador do BC, mas deixou a porta aberta caso haja necessidade de cortes futuros. O que faz com que deixe a porta aberta são as projeções de inflação, que seguem caindo”, diz Weeks, destacando que a estimativa anterior era de 3,4% e passou a 3,2%, abaixo da meta.

Segundo Weeks, a projeção da Garde é de um corte de 0,50 ponto na próxima reunião e depois de mais 0,25 ponto, chegando a Selic em 1,5% ao ano. Apesar da sinalização via inflação, Weeks pondera que o cenário é de incertezas, com o Copom indicando que é preciso aguardar os efeitos sobre o Produto Interno Bruto (PIB) das medidas de incentivo à economia.

O economista-chefe do Banco Haitong no Brasil, Flávio Serrano, destaca o fato de o Copom ter mencionado que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual, e que o colegiado vê assimetria de riscos para cima.

“O Copom sinaliza que estamos muito próximos do fim. É claro que existem muitas incertezas. De um lado, a extensão da pandemia pode gerar queda adicional da demanda, o que geraria a necessidade de novos cortes. Por outro, os estímulos já aplicados e o quadro fiscal pior geram uma assimetria no balanço de riscos para cima. Se for necessário, o BC corta mais, mas se fizer isso, será de maneira muito gradual”, diz o profissional. “Se nada mudar radicalmente para a próxima decisão, a expectativa fica entre manutenção e leve queda de 0,25 ponto percentual”.

Não há nenhum argumento consistente para o Copom manter a taxa Selic no atual patamar, de 2,25%. Essa é a leitura do economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, que espera mais dois cortes de 0,25 ponto da Selic, o que levaria a taxa a 1,75%.

“O único ponto que o comunicado coloca como um risco para a continuidade do corte de juros é o fiscal, variável que poderia elevar o juro estrutural”, explica. “Mas, enquanto a inflação continuar caindo, significa que o juro ainda está longe desse nível estrutural e que, portanto, há espaço de sobra para cortar a Selic novamente.”

Ao deixar a mensagem de que pode adotar cortes residuais da Selic, o Copom deu um passo além do que se esperava, segundo Fabiano Godoi, sócio-fundador da Kairós Capital. Para o gestor, sem saber se os estímulos fiscais dados até aqui para socorrer empresas e famílias vão se limitar a 2020, haveria justificativa para encerrar o ciclo na reunião desta quarta.

Autor: Por Adriana Cotias, Lucas Hirata, Marcelle Gutierrez e Lucinda Pinto FONTE: Valor Investe

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